Está crônica é uma alusão ao “Caso Genivaldo”, agredido e asfixiado em uma abordagem brutal de policiais rodoviários federais, em Sergipe. Por estar sem capacete, sem habilitação e de sandálias…
Outrora, no Distrito de Posto da Mata, em Nova Viçosa- Ba, numa de minhas viagens a trabalho, ocorreu um fato do qual fui testemunha.
Os moradores do Bairro de Cajueiro depararam- se com um caso atípico ocorrido na região.
Tudo começou no início da tarde de uma terça- feira de carnaval, dia 21 de fevereiro de 2010, se não me falha a memória.
Um jovem rapaz de cor parda, confundido com um assaltante, fora abordado por policiais. Preso e algemado foi conduzido a delegacia, por, supostamente, estar praticando um assalto.
Tudo levava a crer, pelas circunstâncias do fato, que se tratava, realmente, de um ato delituoso praticado pelo jovem, pois este foi detido no interior de uma residência, cujos proprietários estavam viajando.
Triste e Lamentável cena!
Analisando a expressão do rapaz, no ato do suposto fragrante, percebi que tinha algo errado. Era um olhar perdido no tempo, um olhar de quem não entendia o que estava acontecendo.
Cheguei então a duas conclusões; ou tratava- se de um pobre coitado aprisionado ao vício das drogas ou de um portador de deficiência psiquiátrica.
As horas passaram, o fato abrandou- se, mas, para surpresa de todos, lá estava o rapaz acomodado, novamente, no mesmo local, porém, desta vez, do lado de fora da residência.
Percebi, então, que uma das opções de minha análise estava correta, o rapaz era portador de um determinado grau de deficiência.
Logicamente que a polícia observando isso, concluiu a inocência do suposto transgressor, libertando- o.
Achei isso um absurdo, não pela atitude policial em libertá-lo, lógico, mas por não terem tomado as providências cabíveis, as realmente corretas e humanas. O certo seria encaminhá-lo para a assistência social da prefeitura ou alguma outra atitude que protegesse a integridade do jovem rapaz. A polícia local foi, no mínimo, imprudente.
O rapaz ali ficou durante o resto do dia e alimentou- se graças aos moradores que, comovidos, fizeram esta caridade. A noite chegou e o estreitamento de um relacionamento amigável envolveu uma família que ajudou o rapaz com acomodação, alimentos, água gelada, travesseiro e cobertores para forrar o chão e protegê-lo do frio, decorrente do sereno da madrugada.
Aos poucos a confiança do rapaz foi conquistada e não demorou muito para que ele entregasse documentos que revelaram dados fundamentais para que seus familiares pudessem ser encontrados. A partir daí tudo ficou mais fácil.
O nome do rapaz era Genivaldo, ele tinha 22/ 23 anos, nativo do município de Lomanto Júnior (Barro Preto) – Ba.
Através de consultas à Internet, viva a tecnologia! Informações, em um site de pessoas desaparecidas, postada por um amigo, foram encontradas.
Resumindo: O trabalho que deveria ter sido feito pelos policiais, foi feito pela comunidade.
A esta altura a vítima já estava acomodada na residência de um morador local, onde fora muito bem tratado.
O rapaz não era um “doente mental” precisando de ajuda e sim um ser humano, portador de uma deficiência, precisando de ajuda.
A União faz a força
O desfecho da história foi comovente e graças à determinação dos moradores da comunidade e a campanha da rádio comunitária local, o dinheiro necessário para que a família do jovem, que não tinha recursos, pudesse buscá-lo, foi arrecadado.
No dia 23 de fevereiro, às 20hs, chegava a Posto da Mata a referida família que foi recepcionada com um jantar de confraternização.
Quantos “Genivaldos” não têm a mesma sorte por esse país a fora?
Autoria: Deco da Silva
Editado em 06 de janeiro de 2023.